Tuesday, February 06, 2007

Meu carnaval






Do lado de lá bandolins, violas, pandeiros e cuícas. São os batuques que atravessam avenidas e vielas, trazendo seus sons até o lado de cá. É o carnaval manipulando a alegria, depois nada mais resta senão ela jogada pelas ruas como confete e serpentina espalhados no chão da Quarta-feira de Cinzas. O carnaval nunca veio para o lado de cá, sempre o vi por entre as frestas da minha porta. Nunca festejei porque vejo estes festejos como sorrisos velozes, quase vultos, quase sombras sem corpos nem roupas. Então preferi não sorrir.


Quando o Sertão suspende o vento, quando as folhas do matagal paralisam o seu rebuliço e quando o sol escorrega na beira do rio começam as cantigas de fevereiro. Lá se vão os mascarados atropelando a melancolia e estendem suas alegrias guardadas em baús o ano inteiro. O cenário é a noite enfeitada de estrelas bordadas no vestido de seda da cabrocha. Os fogos de artifício assustam as galinhas recolhidas em pés de árvores. O silêncio cede espaço aos passos descompassados que descem nas ladeiras. Eles cantam quando os reflexos sol já perfuram as vidraças com a luz do o dia...


Do lado de cá tudo é noite e eu me completo com este palco vazio de luzes apagadas. Algumas reminiscências para não lembrar do tempo destes carnavais. Estas lembranças servem para estar e ser ausente quando os sons carnavalescos cobrem os telhados da minha casa.


Custam-me alguns dias para recolocar as horas com seus ponteiros em ferrugem. O tempo pára, parece que ele quer contemplar estes fantoches mascarados, me deixando na margem deste rio sem margem ou rio das lembranças sem águas. Os palhaços, colombinas, pierrôs sorriem risos... Eu sorrio sem risos do lado de cá do meu carnaval solitário, sem fantasias, sem sambas nem confetes. Já não preciso da Quarta-feira de Cinzas.

3 Comments:

Blogger Felipe Benevides said...

Ah... Imagina só, que loucura essa mistura, alegria, alegria é o estado que chamamos Bahia. No corredor da História, Vitória, Lapinha, Caminhos de Areia. Pelas Vias, pelas veias, escorre um sangue um vinho, pelo mangue pelourinho. A pé ou de Caminhão, não pode faltar à Sé o Carnaval vai passar... Por isso Chame, chame, chame gente! A gente se completa enchendo de alegria... A praça e o Poeta.

7:23 AM  
Blogger Felipe Benevides said...

Adorei a foto.
Adorei o texto.
Acho que meu comentário define um pouco.

7:25 AM  
Blogger Thiago Cardoso said...

Ainda tenho que sentar para Re-Ler os textos do seu blog. Parabéns pela última imagem, emblemática essa. Um abraço

5:27 AM  

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